um gosto
de tempo
salpica
os dedos
fragmentos
verdes
amarelos
vermelhos
um tudo
que passa
entre o ontem
e o hoje
um tudo
que voa
entre o nunca
e o sempre...
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
das fases...
se visto-me
em lua
é escura
minha face nua
e nego-me
um meu, um tua
feito prostituta
feito cio na rua
desfaço-me
disfarço-me
e volto ao útero
pura...
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
prece
sem saber
dos sonhos
o onde
amanhece
e anoitece
esfria
aquece
e uma amnésia
os olhos ilhados
esperam...
dos sonhos
o onde
amanhece
e anoitece
esfria
aquece
e uma amnésia
os olhos ilhados
esperam...
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
que vício...
escrever, eu preciso
na rua, em casa, no chuveiro
ou na lata do lixo
essa ânsia de sair
voar entre flores e pedras
engatilhando versos
não quero ir além
não, não, não é isso
quero meu amém
encontrar de mim, a verve
fazer dormir meus vermes
em potes de crimes abertos
é isso que apetece-me
esse grito rouco no meio da faca
fugindo do sol e abrindo palavras
sangrar meus dedos
escavando letra à letra
valas e mais valas
desde que
não abram suas bocas
e não falem...
é no silêncio da carne
onde a tela branca
faz-se escrava
escrever é vício
que não se apaga
com sabão e lágrimas
escrever é êxtase
que não se acaba
em gemidos e água...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
das águas
se nado em teus olhos
sou toda malemolência
sabes desse jogo
o trigo e o joio
entre meus mares e tua boca
quedam-se meus portos
e em tua língua
despejo minha essência...
domingo, 7 de dezembro de 2014
dos medos...
então é isso
finda mais um domingo...
e a carne finge sorrisos
e teme, como teme
ser vista nua e crua
na segunda...
sábado, 6 de dezembro de 2014
nem sei...
sabe-se lá
se no limbo
existe a fala
ou se os pensamentos
em simples silêncios
casam-se
se há um espaço
onde os olhos, molham-se,
e acham-se
onde sobem
e descem as asas
no arfar das metáforas
sabe-se lá
se faz frio onde é quente
se faz-se quente onde é hábito
se a noite e o dia
lambem-se e bastam-se
entre o nunca e o sempre
se procuram-se os laços
entre sílabas sem rima
e ímpares
onde o êxtase
cala da boca
a palavra
e as almas
descartam do tempo
a carne...
sabe-se lá...
se no limbo
existe a fala
ou se os pensamentos
em simples silêncios
casam-se
se há um espaço
onde os olhos, molham-se,
e acham-se
onde sobem
e descem as asas
no arfar das metáforas
sabe-se lá
se faz frio onde é quente
se faz-se quente onde é hábito
se a noite e o dia
lambem-se e bastam-se
entre o nunca e o sempre
se procuram-se os laços
entre sílabas sem rima
e ímpares
onde o êxtase
cala da boca
a palavra
e as almas
descartam do tempo
a carne...
sabe-se lá...
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
descarte
ando tão pobre
de navalhas
se me deparo
com uma
digo, boa noite
bom dia, boa tarde
não, elas
não sabem
tem fome delas
minha carne...
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
dos dizeres
não sei se em risos
disseram-me monalisa
ela que em tempo
fez-se em tez, um rito
ela que sem tempo
partiu ao meio, o gêmido
se eram em pecados
suas raízes
suas raízes
se eram sacrossantos
seus delitos
nada disse...
só sei, ou imagino que sei
da sua boca, o mito...
maçã...
rubra é a cor que te cobre
doce fruto suculento
seu aroma faz a oferenda,
a língua entre os lábios move-se,
salivante entre os dentes
em desejos contorce-se
sedenta, faminta, seduzida...
a boca se abre lentamente
lambisca, mordisca
a pele carmim
a carne macia
degusta
o néctar exalado,
cheiro e delírio
inalados,
saboreada
fruta do cio
ontem, hoje
amanhã, maçã...
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
sou
por quê tenho de viver
entre as frestas das janelas
se não sou das entrelinhas
o que fede e o que sobra?
quando e onde
deixaram-me na sarjeta
se sou de mim, mãe, pai
filha, começo e fim?
como ao acaso
deitar-me em vis palavras
se, delas, não quero nem o sol
nem as brasas e nem as larvas?
ah, se sou o que sou
sem ser muito ou pouco
ou quem sabe muito pouco
sou eu, sou eu e sou...
entre as frestas das janelas
se não sou das entrelinhas
o que fede e o que sobra?
quando e onde
deixaram-me na sarjeta
se sou de mim, mãe, pai
filha, começo e fim?
como ao acaso
deitar-me em vis palavras
se, delas, não quero nem o sol
nem as brasas e nem as larvas?
ah, se sou o que sou
sem ser muito ou pouco
ou quem sabe muito pouco
sou eu, sou eu e sou...
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
das dores
e se há no peito
uma dor...
que cubra-se
de cascas
negue ser pétala
negue ser febre
coloque-se
entre aspas
e finja
ser pedra...
uma dor...
que cubra-se
de cascas
negue ser pétala
negue ser febre
coloque-se
entre aspas
e finja
ser pedra...
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Quem sabe no Natal...
Esperava pelo pai todos os dias. Por mais que insistisse a mãe, não arredava pé do mesmo ritual. O vestidinho já desbotado, as sandálias apertadas. Fosse frio, buscava um casaquinho, fosse calor, prendia os cabelos. Vaidosa, olhava-se no espelho antes de ir para o portão. Roubava o batom da mãe, o perfume e estava pronta. Quatro anos de vida e tão longas e pesadas histórias.
- Amanhã ele virá, mamãe, falei para professora que não irei na aula pois vou passear com papai.
Os olhos claros foram se tornando turvos, caídos. Irritadiça ficava atenta ao toque do celular da mãe.
Semanas, meses e nada. A presença tão desejada, castigava-a com a ausência.
- Seu pai ligou, pena que você estava na escola... Não quero que fique triste, ele não poderá vir, tem de trabalhar por muito e muito tempo.
Mentira. A situação estava insustentável.
Fitou a mãe como se soubesse que nem isso ele fizera, não ligara, não se comunicara, não se mostrara interessado nela.
- Acho que ele virá no Natal...
Abraçada à mãe, os olhinhos cheios de lágrimas tentavam encontrar um porto seguro, um tempo seguro onde os homens não esquecem-se das pequenas almas que os esperam.
Não voltou mais ao portão. Quem sabe no Natal...
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
escarnio...
tenho chapiscasdo vísceras
em vias de fato ou nas saias d'agua
coágulos em muros brancos
tintas disfarçando gritos
e se não percebem o que digo
não lamento, não ligo
cansam-me as belas faces
cansa-me o raso das falas
ah, como canso-me
da carne...
em vias de fato ou nas saias d'agua
coágulos em muros brancos
tintas disfarçando gritos
e se não percebem o que digo
não lamento, não ligo
cansam-me as belas faces
cansa-me o raso das falas
ah, como canso-me
da carne...
terça-feira, 25 de novembro de 2014
da poesia...
e vem meio manca
meio mantra, meio santa
arregaçando das palavras
entranhas e ancas
libidinosa,
sinuosa
finge uma prece, uma prosa
um hálito de rosas
e sangra..
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
dos imãs...
rouba-me a boca
e não ouso uma rima
pobre e oca
dizem tanto do amor
e ele me faz assim
tão boba...
domingo, 23 de novembro de 2014
bastarda
cuidarei de minhas poesias
tal qual mãe em parto
pois, se aborto-me,
entre as letras amorfas
vejo meu retrato
são cacos, tragos
fiapos, farrapos, espasmos
caos e nacos
um nada entre metáforas,
escorrido e mal acabado
quero um parto
de úteros não meus
e de fetos alheios
um punhado de versos
sem os tons de vermelho
sem o meu espelho
uma poesia de sins
filha do acaso, filha bastarda
uma poesia... sem mim
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
estridente...
desmembro
novembro
e em cada lembro
um membro
e em cada membro
um ente
em cada ente
um antes
e foram-se os membros
e foram-se os entes
e foram-se os antes
e foram-se as lentes
entre dentes
sangro, novembro...
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
das asas...
qual o nome da dor
qual o nome da flor?
edith
frida
silvia
virginia
eram tão raras
as rosas
eram tão fartas
as mágoas
que vício
que vício
um último trago,
um último passo
uma overdose de vida
e o voo, livre...
qual o nome da flor?
edith
frida
silvia
virginia
eram tão raras
as rosas
eram tão fartas
as mágoas
que vício
que vício
um último trago,
um último passo
uma overdose de vida
e o voo, livre...
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
maktub
sem saber
se havia luvas
expuseram-se
as mãos ao mundo
e ele, o mundo
cruel e sujo...
contaminou das mãos,
olhos e cruzes
se havia luvas
expuseram-se
as mãos ao mundo
e ele, o mundo
cruel e sujo...
contaminou das mãos,
olhos e cruzes
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
dos espectros...
levantam-se as palavras
entre letras mortas e lázaras
metamorfose
de quem foi pássaro
metamorfose
de quem não tem face
e se falo da morte
é nela que encontro asas
de que têm medo os nomes?
de que têm medo as frases?
se nessa mesma morte
abrem-se os céus da boca
se nessa mesma morte
esquartejo meus olhos ocos?
se nessa mesma morte
caminham ontens e hoje?
e vejo...
o que não foi dito
e acho graça
do que foi destino
e desprezo e desprezo
o que ainda vive...
sábado, 8 de novembro de 2014
dos ais..
por onde
respingo
ais
há um hálito
maldito
do tanto faz
manchas vermelhas
em histórias
brancas
o que sabem
os reles mortais
dos dedos que lambem?
o que sabem
covas tão rasas
das flores que mancam?
por onde
respingo
ais
há sempre
bocas famintas
de sangue...
respingo
ais
há um hálito
maldito
do tanto faz
manchas vermelhas
em histórias
brancas
o que sabem
os reles mortais
dos dedos que lambem?
o que sabem
covas tão rasas
das flores que mancam?
por onde
respingo
ais
há sempre
bocas famintas
de sangue...
terça-feira, 4 de novembro de 2014
domingo, 2 de novembro de 2014
eis que...
porque me desnudam as letras
não quero se não, olhos alheios
tal qual uma música sem dono
sem endereço, sem nome, sem freios
eis que vejo-me solta
a mercê de tantas veias
ora sou uma, ora sou duna
areia, estátua, pedra, devaneio
e se prendo-me aos medos
arranco-os sem raízes, ao meio
e sangro e sangro
num êxtase do desapego...
porque me desnudam as letras
quero de poesias, meu leito...
sábado, 1 de novembro de 2014
fagulhas
e no mormaço
a fala, os olhos, as brasas
do que não foi apagado,
indignadas as palavras
buscam nas cinzas, as asas,
e acham...
a fala, os olhos, as brasas
do que não foi apagado,
indignadas as palavras
buscam nas cinzas, as asas,
e acham...
das esferas...
rezemos
sem pressa
às velas
é novembro
senhor das lápides
aos mortos
ano novo, tinta nova
é novembro
aos ossos, uma festa
às almas,
o céu ou o inferno?
e essa saudade
sem barcos, sem respostas...
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
catarse
trancasse meus gritos
em lugar ermo, inóspito, sujo
voltariam feito lâmina, de susto
e em palavras escritas
essas que não profiro e não digo,
desenterrariam feridas
se me dissessem do seu cheiro
se me dissessem do seu gosto
se me dissessem rostos
sempre e sempre
seriam letras e mais letras
que aqui e ali, vomito...
terça-feira, 28 de outubro de 2014
tanto faz...
por quê tantos ais
por quê tantos varais?
exclamações
letras maiúsculas
interrogações
saias justas
e esse cansaço
sem pés, sem jazz
e o velho conhecido
tanto faz, tanto faz
de resto
é juntar os engasgos
tatuar uma prece
no avesso da pele
jogar os búzios
sangrar os pulsos
de joelhos, tecer esperas
em nuvens que não gestam
quem sabe
ensaiar uma lápide
um nome feio
um aborto ao meio
tanto faz
tanto faz...
por quê tantos varais?
exclamações
letras maiúsculas
interrogações
saias justas
e esse cansaço
sem pés, sem jazz
e o velho conhecido
tanto faz, tanto faz
de resto
é juntar os engasgos
tatuar uma prece
no avesso da pele
jogar os búzios
sangrar os pulsos
de joelhos, tecer esperas
em nuvens que não gestam
quem sabe
ensaiar uma lápide
um nome feio
um aborto ao meio
tanto faz
tanto faz...
domingo, 26 de outubro de 2014
assim...
outubro
sem chuvas
com urnas
curva-se
sob o manto das mentiras
pesam-lhe os dias
que venha novembro
das velas e das lápides
rostos sem nome
flores de plástico
a encilhar a vida...
a beber os mortos
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
do abandono...
e ladram
e cansam-se
e calam-se
não querem palmas
não querem pedras
um ou outro afago
um bocado de água
comida no prato
tão pouco
tão nada
aos cães abandonados, basta...
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
ponto a ponto...
o que é lusco
o que é fusco
busco
o que é torpe
o que é torto
recolho
passos, laços
nacos, pedaços, ferrugens
ferrolhos
aqui e ali
na ponta da rima
cacos costuro
sábado, 18 de outubro de 2014
das profecias...
"dizei uma palavra
e serei salva"
do sangue
o mistério
das linhas
a palma
da lança
o alvo
da poesia
a pele
da carne
a alma...
e serei salva"
do sangue
o mistério
das linhas
a palma
da lança
o alvo
da poesia
a pele
da carne
a alma...
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
com tato...
um véu
rente aos céus
de azul lampejo
de vermelho medo
a pedir aos dedos
boca, língua e beijos...
um véu
rente ao mel
de branco segredo
de verdes desejos
a pedir às letras
gosto, toque e cheiro...
rente aos céus
de azul lampejo
de vermelho medo
a pedir aos dedos
boca, língua e beijos...
um véu
rente ao mel
de branco segredo
de verdes desejos
a pedir às letras
gosto, toque e cheiro...
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
né?
tudo o que queria
era um pouco de açúcar
um pedaço de pão
e uma pitada de sal
café com leite, arroz, feijão
tomate, couve e almeirão
uma cama, um fogão
livros e mais livros
água doce
e roupa no varal
para companhia
um cão, um gato, uma galinha
um punhado de siêncios
e muita poesia...
era um pouco de açúcar
um pedaço de pão
e uma pitada de sal
café com leite, arroz, feijão
tomate, couve e almeirão
uma cama, um fogão
livros e mais livros
água doce
e roupa no varal
para companhia
um cão, um gato, uma galinha
um punhado de siêncios
e muita poesia...
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Das culpas...
As rodas comiam o asfalto com fome e com pressa. A noite favorecia aos devaneios, o motorista ao meu lado, tão conhecido por mim, fazia a troca de marchas sem piscar, sem pestanejar. Engraçado, em raras situações eu sentia que sua mente esquizofrênica dava-lhe paz, dirigindo era uma delas.
Talvez pela configuração dos signos, a minha trouxe-me essa empatia, essa intuição que me assola, que me castiga, que me tortura. Poucas são as pessoas que fito, que observo e não consigo vislumbrar suas essências, diria que são quase exceções.
Existem homens com desejos tantos, com fetiches tantos, com gestos tantos e inimagináveis, a literatura, a internete estão recheadas deles. Mas ainda não li, não vi, alguém que fosse fissurado no toque puro e simples de um nariz. Sim, era esse o maior gesto e a maior prova de amor do homem ao meu lado. Entre um quilômetro e outro estendia sua mão ao meu rosto e seus olhos tocavam os meus. E me diziam do prazer de me sentir de me perceber ao seu lado através de um toque em meu nariz. Havia dias que me ressentia, doia-me o bendito nariz. Por quantos anos isso? Muito e muitos, brincava e sorria me dizendo que só eu lhe proporcionava esse prazer, os outros narizes não eram o meu. Quando o evitava, quando evitava seu toque, era como tirar-lhe o sentido das mãos, cortava o cordão umbilical que nos unia.
E ali estávamos, os dois embalados por Beatles, sempre Beatles. Ele, conhecia todas as músicas, tocava-as todas. E hoje, qualquer menção de Lennon, Paul, Ringo, George me levam ao passado. Tantas coisas me levam ao passado. Como se meu futuro estivesse enterrado nele.
A decisão do retorno não tinha sido fácil. Foi dolorosa, foi traumática, foi cirúrgica. E enquanto o carro ganhava terreno eu me perdia. O destino seria uma nova vida, uma nova chance. Não, não era nada disso. Era minha expiação, necessitava expiar minha culpa. Expiar meus erros. Arrancar dentro de mim o câncer a me roer e corroer, o câncer da culpa.
As estrelas ao longe piscavam e mostravam-se maiores do que em noites normais. A lua nos seguia, nos observava. Logo chegaríamos ao nosso destino.
Amanhecia.
A cidade que me esperava já era minha velha conhecida e fervilhava. Cidade turística, cidade de tantas etnias. A cidade sorriu-me. Ele continuava a dirigir e dirigir sem se cansar, sem muito falar. O que era raro. Entre nós sempre foi o mais falante. Reclamava do meu jeito calado, sempre em busca do poder sobre mim, se pudesse entraria em minha mente e a vigiaria noite e dia, dia e noite.
A casa. Diferente da que tivemos, diferente da que vivemos por vários e vários anos, testemunha de todos os nossos conflitos, de todas as nossas dores. Essa, era bonita, chique. Melhor e já mostrava os traços da personalidade do seu novo dono. Assim que a vi, percebi que ele não havia mudado, nada havia mudado.
Ao entrarmos sala a dentro, as chaves do carro foram jogadas em cima da mesa. E ao me tocar novamente ao estender sua mão para meu nariz, novamente seus olhos tocaram os meus e vi no fundo deles, que nada mudaria. Eu expiaria minha culpa, meus pecados estavam a mercê de sua esquizofrênia.
domingo, 28 de setembro de 2014
das penas...
o que tramam os pássaros
na revoada que pia e passa?
ignoram as águas
ignoram as horas
ignoram as mágoas
ignoram as lágrimas
piam e piam e passam
dos olhos, são asas...
na revoada que pia e passa?
ignoram as águas
ignoram as horas
ignoram as mágoas
ignoram as lágrimas
piam e piam e passam
dos olhos, são asas...
dos ecos...
e se ouso
e se pouco
de amor, eu falo
de amor, eu ouço
é de um amor louco
é de um amor torto
ainda fogo
ainda poço
e morto
e morro
voo...
e se pouco
de amor, eu falo
de amor, eu ouço
é de um amor louco
é de um amor torto
ainda fogo
ainda poço
e morto
e morro
voo...
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
in sone...
que fúria é essa
sem nome, tão pressa?
do relógio
não quer as horas
dos olhos
não quer os sonhos
e mata
sem ser fome
e cega
sem ser sede
que fúria é essa
sem colo, sem dono?
insônia
insônia...
sem nome, tão pressa?
do relógio
não quer as horas
dos olhos
não quer os sonhos
e mata
sem ser fome
e cega
sem ser sede
que fúria é essa
sem colo, sem dono?
insônia
insônia...
sábado, 20 de setembro de 2014
das lágrimas...
de anseio em anseio
gasto dos olhos, os joelhos
de tão gastos, tão cansados
não dobram-se, espasmam-se
e choram...
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
dos cortes
e esse cansaço
de tanta poda
de tanta pólvora
de tanta solda
se é corte
que seja breve
que seja torto
que seja ópio
quero mais
o erro alado
o erro ao lado
o erro em asas
das palavras...
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
litígio...
tenho andado muito prosa
sem querer saber das trovas
e vem a poesia a galope
autoritária, a falar em rosas
insisto no vermelho sangue
teimosa, ela quer, pink romance
irritante, irritada, irritável
não sei se sou eu, ou se é ela
nada de entrelinhas
nada de versos
se continuarmos assim
é litígio na certa
oras essa...
ela ri, e nem eu acredito
em minhas promessas...
sem querer saber das trovas
e vem a poesia a galope
autoritária, a falar em rosas
insisto no vermelho sangue
teimosa, ela quer, pink romance
irritante, irritada, irritável
não sei se sou eu, ou se é ela
nada de entrelinhas
nada de versos
se continuarmos assim
é litígio na certa
oras essa...
ela ri, e nem eu acredito
em minhas promessas...
dos prazeres...
sem ponteiros
sem travesseiros
letras em espreita
letras sem gavetas
num tum-tum-tum
dos dedos
tocam e tocam-se
sem sossego
e escorrem
em êxtase
domingo, 14 de setembro de 2014
O Porão
A escada a minha frente não existia aos meus olhos. Quando abri a porta para o porão foi o cheiro de mofo que me atingiu como uma realidade aconchegante. A mania de preferir as sombras e os escombros aumentava com o passar dos anos. Pudesse ser um bicho seria um morcego. O bom e velho morcego. Cego e de um radar invejável.
Com um suspiro em êxtase comecei a descer degrau por degrau, adivinhando-os. As sombras, a escuridão aguçavam meus sentidos. O olfato degustando do mofo, o tato acariciando o corrimão empoeirado, a audição conseguindo alcançar os gritos da madeira estalando sob meus pés e o medo dos ratos correndo, pressentindo a presença do predador mor, eu, o ser humano.
Não era um porão qualquer, era o meu porão. Escondia-me nele desde que consegui ficar longe das mãos de minha mãe e irmãs. E dele saia todas as vezes sob as vozes femininas e horrorizadas.
Na ausência de minha consciência, projetei meu inconsciente no escuro, lúgubre e funesto porão. Onde hoje e sempre sinto-me eu, sinto-me à vontade.
Homens são seres estranhos, voltam-se para si mesmos, gritam com si mesmos, culpam-se pelos erros e parabenizam-se pelos acertos. A idade tem me deixado cínico e mais observador. Percebo nas pessoas a necessidade de criarem casulos, labirintos e porões onde perdem-se e escondem-se chafurdados em comiserações e vaidade. Basta olhá-los nos olhos, e lá estará a ponta do fio de Ariadne que nos levará a um desses compartimentos internos.
O meu compartimento é externo. O porão da casa onde nasci e vivi.
Tenho evitado a luz por tantos anos que somos quase inimigos.
As mulheres de minha família com o tempo se foram. Não me perguntem como. Seriam longas histórias a serem relatadas. Gosto de manter o passado enterrado e guardado para que em noites de tédio eu possa revirá-lo e senti-lo perto de mim em segredo.
Tenho pensado nas lápides, como seria estar em uma cova coberta por terra ou por cimento. Seria tão agradável quanto meu porão? Os corpos que enterrei nunca me assombraram, nunca voltaram para contar a sensação dos vermes roendo suas vísceras. Pena.
E cá estou em meio aos destroços e desgraças familiares espalhados em três metros quadrados. O cheiro do mofo misturando-se ao da moça já em decomposição no colchão por nós usado há dois dias é simplesmente divino. Assim imagino ser o cheiro de Deus, um perfume de pruridos, carne, medo, ignorância e escuridão, um perfume exalado por uma essência que alimenta-se de devoção .
Quanta incoerência no corpo estendido diante de mim. Nenhuma gota de sangue, nenhum pulsar, nenhum som, nada. Cadáveres deveriam de continuar a sangrar para coroar sua perfeição.
Antes que o dia nasça, ela e eu, já estamos acomodados, ela no porta-malas do carro e eu conduzindo sua morte, assim como conduzi sua vida. Acelero, tenho pressa ou teremos de enfrentar a luz para preservar minhas sombras... Amém.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
cárcere
é estranho esculpir palavras
sem ceder à elas, suas asas
olham-me de soslaio
olham-me assustadas
entre o branco e o vácuo
olhos outros, não há,
que falta é essa
que eco é esse
tão grito, tão forte,
quicando sem norte
versos em silêncio
um quase epitáfio
asfixia sem lápide
asfixia sem morte
a poesia e o nada...
sem ceder à elas, suas asas
olham-me de soslaio
olham-me assustadas
entre o branco e o vácuo
olhos outros, não há,
que falta é essa
que eco é esse
tão grito, tão forte,
quicando sem norte
versos em silêncio
um quase epitáfio
asfixia sem lápide
asfixia sem morte
a poesia e o nada...
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
desejos...
eram turvas
as curvas
eram lascivas
as fugas
eram tenras
as uvas
e um medo
do passo a frente
e um medo
da boca pendente
e o medo
das mãos ardentes
um não
querendo sim
sem armas
sem disfarces
prender as uvas
entre a língua e os dentes
no lascivo
diluir-se em fuga
beber das curvas
águas profundas
e afogar o medo
em corpos que procuram-se...
as curvas
eram lascivas
as fugas
eram tenras
as uvas
e um medo
do passo a frente
e um medo
da boca pendente
e o medo
das mãos ardentes
um não
querendo sim
sem armas
sem disfarces
prender as uvas
entre a língua e os dentes
no lascivo
diluir-se em fuga
beber das curvas
águas profundas
e afogar o medo
em corpos que procuram-se...
sábado, 6 de setembro de 2014
Adubo
Não espero de você alguma empatia. Preste atenção, por favor. Se não existe para mim, não espero que exista para mais ninguém. Uma palavrinha com ranço de cabresto inventada para cercear os instintos. Uma baboseira a mais citada por idiotas que pensam entender pessoas iguais a mim.
Sabe, você não me conhecia mas eu te conhecia. Se empatia para mim não existe, existe algo maior e melhor, existe em mim a capacidade pura e virgem de farejar o que você sente e pensa sem que isso me afete e atrapalhe meu objetivo. Pelo contrário, faço uso e abuso dessa capacidade.
Minha espécie, graças a Deus, é desprovida de sentimentos e apegos. Por não tê-los identifico-os e bem. Juro que meu desejo é de comemorar o gozo que o sangue escorrendo de suas veias para sua carne está me proporcionando. Prolongar e comemorar. Comemorar por vários e vários dias. Se pudesse te exibiria, exibiria o meu êxtase, o meu poder sobre a matéria. Não me olhe assim... Tenho minha vaidade, meu ego. Orgulho de minha obra.
Acha que sou louco?
Não irá me responder. Nem outros corpos me responderam. Gosto disso. Vejo que ainda resta uma centelha de vida em seus olhos. Interessante. Está demorando um pouco mais. Por quê?
Não, não tente responder. Conserve o que te resta de energia para mim.
Quero continuar a te deleitar com minha sabedoria sem ser interrompido. Onde paramos?
Curiosa em saber como te conheci? Não, não pense bobagens. Não foi em redes sociais. Muito manjado. Para quem não consegue falar está indo muito bem. Um pouco mais e terminaremos. Tenha paciência. Bom demais esse seu sangue escorrendo, deixe-me prolongar meu prazer. Você deu trabalho, não esperava por isso. Miúda, magrela. Mas arranha como gato e dá coice como cavalo. Não devia ter me machucado, tive de te prender antes da hora. Gosto mais quando o processo da caça se prolonga.
Mas, sou magnânimo, te perdoo, está indo bem.
Vamos em frente, antes que... Antes que... Se quiser pode rezar. Dizem que é bom antes da hora derradeira. Se ele lá em cima te ouvir, mande minhas saudações, um belo trabalho o dele. Corpos e mais corpos a serem ceifados para alimentá-lo. Eis o que sou, minha cara, um servo de Deus. Ofereço o sua alma a ele. E eu... Eu fico com sua carne pulsante, com seu medo que lateja, com seu sangue que brota como flores vermelhas de sua pele onde carinhosamente penetrei minha adaga.
Droga. Outra que me deixa falando sozinho. Pobrezinha partiu sem saber onde a conheci. Fácil, observar, marcar a caça. Fazer os planos e executar.
Não foi difícil atraí-la para meu carro. Um dia ou outro elas aceitam a carona. E agora estava ali em minha cama ao meu sagrado dispor. Finalmente calou a boca. Calou a boca de fato e me deixou em paz. Resmungos, vozes, gritos, gêmidos me incomodam. As pessoas fariam bem umas as outras se evitassem o desprazer de serem ouvidas. Mas, eu admito e agradeço do fundo do meu coração, o imenso e inenarrável prazer. Pouco a pouco tirar de dentro da preciosa carne o que a contamina, retirar todo o peso de anos e mais anos desses corpos é maravilhoso. Um corte, dois cortes, lanhando mais um pouco, um pouco mais. Somente eu, sei e conheço suas verdadeiras faces, sem nenhuma linha de expressão, sem nenhuma emoção. Não há nada mais belo do que o rosto de um cadáver. Nada mais puro. Lamento que assim seja por pouco tempo. Logo se deterioram e perdem esse encanto.
O corpo a minha frente, ainda quente, foi meu cúmplice, me provocou e acenou com gestos em um ritual conhecido por mim. O que dentro dele havia era um estorvo. Como as pessoas são idiotas, pensam ser mais do que carne, ossos e sangue, não são. Tirando o que dentro delas há, o que resta é o adubo. Dizem serem complicadas e são simples. Querem um alozinho, um sexozinho, um noitada, a rotina. Infelizes. Eu sou superior. Livro-os da carga emocional, reduzo-os à matéria, santifico-os pós morte. A terra o que é da terra, adubo.
domingo, 31 de agosto de 2014
das faces
desconstruo-me
sem buscas, sem rumos
e escorro feito leite
em xícara sem fundo
sem raízes, faço das letras
minha cama, minha ilha...
pinço aqui e ali palavras
que foram entrelinhas
mato o que foi inteiro
vivo do que morreu
e entre meus dedos
esmago, espelhos meus...
sábado, 30 de agosto de 2014
então tá...
não diga que não te avisei
não diga que não te evitei...
eu tentei e você sabe
antes e depois da carne
mas, se é pra ser além...
que assim seja, amém
agora é tão meu o tempo
ontem e hoje num sempre
as máscaras uma à uma, pisoteadas,
e todo fel deliciosamente inalado
tão longo o caminho riscado
tão longo e por nós, desejado
suas mãos, seus olhos distantes
cuidando dos meus fracassos,
não, não diga que não te avisei
não, não diga que não te evitei...
éramos você e eu
eu e você e mais nada...
eu tentei e tentei e você sabe
se nos machucamos foi nos quases
se, nos achamos, foi no pecado
você sente e você sabe...
sem imagens
só palavras...
não diga que não te evitei...
eu tentei e você sabe
antes e depois da carne
mas, se é pra ser além...
que assim seja, amém
agora é tão meu o tempo
ontem e hoje num sempre
as máscaras uma à uma, pisoteadas,
e todo fel deliciosamente inalado
tão longo o caminho riscado
tão longo e por nós, desejado
suas mãos, seus olhos distantes
cuidando dos meus fracassos,
não, não diga que não te avisei
não, não diga que não te evitei...
éramos você e eu
eu e você e mais nada...
eu tentei e tentei e você sabe
se nos machucamos foi nos quases
se, nos achamos, foi no pecado
você sente e você sabe...
sem imagens
só palavras...
terça-feira, 19 de agosto de 2014
ir e vir...
repetem-se os ciclos
noite e dia, verão e inverno
morte e vida
assim
caminha a humanidade
em círculos...
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
dos rebentos...
num onde
alastram-se
anseios
brota
o feto
do verso
esse
ainda
ao meio
sem saber-se
meu ou alheio
pele ou beijo...
sem fim
sem começo
de joelhos...
sonha
ser da poesia,
as veias...
alastram-se
anseios
brota
o feto
do verso
esse
ainda
ao meio
sem saber-se
meu ou alheio
pele ou beijo...
sem fim
sem começo
de joelhos...
sonha
ser da poesia,
as veias...
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
das datas...
se é de pai
se é de mãe
tanto faz,
se, noite ou dia...
há mãos
há preces
e essa pressa
do pão, da paz
e pés
que caminham
sozinhos...
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
a gosto...
com que rosto
anda o tempo
velho
ou moço?
dizem
dos desgostos
dizem
dos loucos
dizem
dos ventos
dizem
dos lamentos
com tanto gosto
dizem e dizem: é agosto...
anda o tempo
velho
ou moço?
dizem
dos desgostos
dizem
dos loucos
dizem
dos ventos
dizem
dos lamentos
com tanto gosto
dizem e dizem: é agosto...
domingo, 3 de agosto de 2014
pois é...
e numa overdose
fecham-se meus olhos
é tanta letra
cuspida na tela
é tanta imagem
fazendo promessa
é tanto amor
rimando com flor
é tanta dor
exalando das rezas
é tanta fé
carecendo de rédeas
e eu aqui
sem saber, se rio
ou se choro
ou se, simplesmente
de tudo, debocho...
fecham-se meus olhos
é tanta letra
cuspida na tela
é tanta imagem
fazendo promessa
é tanto amor
rimando com flor
é tanta dor
exalando das rezas
é tanta fé
carecendo de rédeas
e eu aqui
sem saber, se rio
ou se choro
ou se, simplesmente
de tudo, debocho...
quinta-feira, 31 de julho de 2014
ao pó...
nascem olhos
tenros, novos
com fome
gulosos
luxuriosos,
a cada gesto
a cada verbo
crescem
escada acima
inferno a dentro
e
a cada erro
a cada acerto
caóticos
tortos
murcham
sem reflexo
sem eixo
secos,
e sem voz
morrem
sós...
sábado, 26 de julho de 2014
das mudas...
do que era incolor
do que era cólera
do vermelho fúria
ao branco que ruge
das vozes em desuso
em mãos aos soluços
das palavras aos murros
aos versos rubros
um nada quase mútuo
olhos e poesia e tudo...
do que era cólera
do vermelho fúria
ao branco que ruge
das vozes em desuso
em mãos aos soluços
das palavras aos murros
aos versos rubros
um nada quase mútuo
olhos e poesia e tudo...
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Navegue comigo...
Deus, dê-me suas mãos,
navegue comigo
Vamos juntos explorar
continentes, mares,
casebres, mansões
Entre os humanos na terra
sondar vossos lares
Veja os filhos teus,
muitos estão em guerra!
Outros tem a face descarnada
é a fome, avassala-os sem pudores,
Ouça o gemido de vidas abortadas,
Navegue comigo, meu Deus,
O universo é teu....
Se há flores, há dores,
filas de ovelhas a esmolar
Crianças exploradas,
Velhice desrespeitada...
Observe as estrelas, são tuas
Empreste o brilho delas
aos errantes
Deixe o sol iluminar
os descaminhos,
Deus, são filhos teus!
Nos sertões, nas ruas
Todos navegantes
Ah! Os bem sucedidos...
Minoria ou bandidos?
Acredite meu Deus,
Esse mundo é teu
Navegue por ele
Desça ao inferno das almas suplicantes!
Mostre-se aos meninos que se drogam
Mostre-se às meninas que se prostituem!
Mostre-se ao abandono dos animais
Navegue!
Seja menos Deus, misture-se ao homem!
Somos gratos pelas vidas socorridas
crianças em lixos, acolhidas, filhas tuas
Mas não faças disso um milagre!
Navegue! Faça o bem ser normal
Nos envolva com a magia da lua
Seja nosso abrigo natural,
Não me deixe crer
Que Deus é ateu...
terça-feira, 15 de julho de 2014
das safras...
há dias
que letras carrego
em outros, elas,
carregam-me
ora sou carga
ora sou escrava
palavra
que letras carrego
em outros, elas,
carregam-me
ora sou carga
ora sou escrava
palavra
sábado, 12 de julho de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
36
no frigir dos olhos
na copa e na cozinha
restaram os copos...
e os cães agradecem
a ausência dos fogos
domingo, 6 de julho de 2014
dos esgotos...
ouço vozes
ouço minúcias
ouço a lua
e estaco, quase pêndulo
presa em um meio fio torto
ao sabor do que destoa
o centro, ali ao lado
faz pirraça, faz pouco
de minhas escolhas
e eu,
hermética, cética
isolo-me...
ouço olhos
ouço exclusos
ouço escuros...
sábado, 5 de julho de 2014
das impossibilidades...
o que hei de fazer
com tantos espinhos
que teimam caminhos
pudesse varrê-los
pudesse baní-los
extirpar dos meus pés
a dor de não ter uma saga
onde possa plantar sóis e fé
mas...
se tudo é quase
se tudo é necrose
e se entre os espinhos
encontro, a rosa, a prosa,
o silêncio, a voz e a poesia
não tenho um fazer
não há, não hei..
com tantos espinhos
que teimam caminhos
pudesse varrê-los
pudesse baní-los
extirpar dos meus pés
a dor de não ter uma saga
onde possa plantar sóis e fé
mas...
se tudo é quase
se tudo é necrose
e se entre os espinhos
encontro, a rosa, a prosa,
o silêncio, a voz e a poesia
não tenho um fazer
não há, não hei..
sábado, 28 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
terça-feira, 24 de junho de 2014
das perdas
prenderam o fôlego
olhos, mãos e joelhos
não ousavam os olhos
atravessarem as letras
não ousavam as mãos
apressarem um desfecho
não ousavam os joelhos
a dobrarem-se aos devaneios
prenderam-se ao medo
perderam-se no tempo
olhos, mãos e joelhos
não ousavam os olhos
atravessarem as letras
não ousavam as mãos
apressarem um desfecho
não ousavam os joelhos
a dobrarem-se aos devaneios
prenderam-se ao medo
perderam-se no tempo
segunda-feira, 23 de junho de 2014
das palavras
gosto de palavras novas
gosto de palavras antigas
gosto da palavra, poesia
dentro dela cabem
sangue e água
morte e vida
cura e vício...
quarta-feira, 18 de junho de 2014
dos andrajos
tenho pensado
nos sapatos mortos
que deixei sem pés
nos trapos
e nos farrapos cinzas
ainda vivos
esses que insisto carregar
pra lá e pra cá, acolá
sem ter onde ficar
dia ou outro
enojam-me e em espasmos
tento cuspí-los, vomitá-los
e aqueles sapatos
abandonados dizem-me
tire deles, a fé...
bolinam minha carne
açoitam minhas palavras
insinuam-se em minha escrita
numa vingança ao vazio
ao vácuo, imploram-me
aos andrajos, a lápide...
nos sapatos mortos
que deixei sem pés
nos trapos
e nos farrapos cinzas
ainda vivos
esses que insisto carregar
pra lá e pra cá, acolá
sem ter onde ficar
dia ou outro
enojam-me e em espasmos
tento cuspí-los, vomitá-los
e aqueles sapatos
abandonados dizem-me
tire deles, a fé...
bolinam minha carne
açoitam minhas palavras
insinuam-se em minha escrita
numa vingança ao vazio
ao vácuo, imploram-me
aos andrajos, a lápide...
terça-feira, 17 de junho de 2014
dos ninhos...
espinho a espinho
desconstruí meus ninhos
de vazio em vazio
teci minhas palavras
de palavra em palavra
libertei minhas asas
assim, sem início
sem fios, só fim...
sem pouso
da carne me desprendo
e minha alma
em poesia, voa...
domingo, 15 de junho de 2014
nada...
não sei se de riso
não sei se de choro
um gozo invertido
ao ver-te do avesso
o que era tão formoso
em palavras e frases alheias
hoje, nu e cru
sem os olhos em teias
é feio
é feio
um feio encontrado
no gado marcado
sem face
sem metáforas
sem o corte da faca
sem ser excluído da farra
só mais um
em meio ao nada...
nada
mas...
ando pisando
em entrelinhas
em silêncios
de costas
aos meus erros, meus eus
repetindo tanto faz
se rezo um mantra
em sinagogas de letras
aos pés da insônia
num paradoxo
a poesia refaz-se
e nega-me um cais
implora-me
as dores e as delícias
dos meus ais...
não tanto faz
só esse tanto fez
a pedir mais e mais
em entrelinhas
em silêncios
de costas
aos meus erros, meus eus
repetindo tanto faz
se rezo um mantra
em sinagogas de letras
aos pés da insônia
num paradoxo
a poesia refaz-se
e nega-me um cais
implora-me
as dores e as delícias
dos meus ais...
não tanto faz
só esse tanto fez
a pedir mais e mais
domingo, 8 de junho de 2014
dos sonhos...
insiste a noite
nessa insônia sem fim
dama dos pesares
meu calcanhar de aquiles
como se fossem as horas
palpáveis, tangíveis e táteis...
ao meu redor, caminham
em salto alto, quase agulha
não fecho os olhos
esses alheios ao mundo
não derrubo dos sonhos
os tijolos, os muros
entre os pesadelos
desço, mais fundo
nessa insônia sem fim
dama dos pesares
meu calcanhar de aquiles
como se fossem as horas
palpáveis, tangíveis e táteis...
ao meu redor, caminham
em salto alto, quase agulha
não fecho os olhos
esses alheios ao mundo
não derrubo dos sonhos
os tijolos, os muros
entre os pesadelos
desço, mais fundo
quinta-feira, 5 de junho de 2014
dos fins...
o que me alucina
é não encontrar
para vida, uma rima
e, ser o amor uma bobagem
onde germinam sofismas
em busca da carne
o que me consola
é saber que até as dores
um dia morrem...
um despregar os olhos
das vicissitudes e das mentiras,
ser apenas, cadáver...
e nem é inverno...
tão lascivo
veio o frio
sobe árvores
desce a pele
velho conhecido
dos gatos, dos telhados
a carne espia
quer poesia
em tons cinzas
caminha
faz trapaça
corpos enlaça
de branco
forra a grama
arrepia, lateja
faz-se amante
desejos
e cama...
terça-feira, 3 de junho de 2014
simples assim...
amanhã
visitarei tuas
lembranças
será um hoje
com cara
de ontens
numa brincadeira
de esconde
esconde
esconderei eu,
os olhos meus
dos teus
mas, se em ti
pousar uma poesia
minha...
nego
e negarei
a autoria
visitarei tuas
lembranças
será um hoje
com cara
de ontens
numa brincadeira
de esconde
esconde
esconderei eu,
os olhos meus
dos teus
mas, se em ti
pousar uma poesia
minha...
nego
e negarei
a autoria
domingo, 1 de junho de 2014
descarne...
não sei onde foi
não sei como foi
sei da trave retirada
sei do vidro quebrado
sei desses meus olhos
que tudo desnudam
e do sarcasmo
da ironia, abusam,
sei dos meus passos
em caminhos contrários
desse cansaço
da mesmice e dos achos
sei
do meu desprezo
seco, ao cubo, com gelo
que laços
e pessoas
navalha
sábado, 31 de maio de 2014
do que sou...
e essa ponte
entre meus olhos
e minha boca
entre minhas letras
e meus pensamentos
entre meu rosto
e o espelho
entre meu corpo
e o tempo
essa ponte
faz-me tropeço
faz-me segredo
faz-me latente
faz-me hoje
faz-me dos defeitos
ciente...
sexta-feira, 30 de maio de 2014
quinta-feira, 29 de maio de 2014
à margem...
Letárgicas minhas letras, negam-se aos meus dedos. Fossem cadáveres, mereceriam lápides, mereceriam secas e esturricadas lágrimas. Um retorno ao que me dedicam há dias, ontens e hoje. Ingratas, fazem-se mulheres frias, reviram-se, escondem de mim sua poesia. Poesia? Como se fosse minha cria, a poesia. Que ignomínia... Não há a posse da poesia. Não há no rosto que se esconde por trás dos nomes a magia de despertar fosse onde fosse, fosse poço, fosse fossa a queima da carne, a ardência da alma onde mora a desonra do que é ser direito, o certo sem avesso. Tudo é gelo, tudo é degredo aos olhos que batem e voltam na lâmina rasa e sem espelho nesse rosto que tenta não ser de si as próprias letras em veios.
E elas, as letras, sabem e encaram-me de cara feia, com maus modos, crianças que tudo veem, que tudo pressentem entre a página branca e longa que estende-se entre meu leito e o concreto do martelo que nega-se a executar ordens sem nenhum deleite, sem nenhum defeito. Posto que perfeita não sou, posto que torta são e sabem as palavras que de mim escorrem quando sem eixo, deixo-as livres e soltas.
Nessa guerra entre o ser e o não ser, perco. Perco o tino, o rumo, o prumo, a rima. Restam-me os passos mancos, as palavras surdas. Não querem a exatidão, não querem os céus, buscam o porão. Buscam entre meus dedos o refugo, o esgoto, o meio vivo, meio morto. O torto.
É nas arestas, é na assimetria, é nos olhos que cavam e escavam imagens em busca do miolo onde a arte encostou suas palavras como se um descarte fosse que mergulho e volto, zonza, tonta. E ali ou aqui, à margem, sempre à margem do que para uma maioria hipócrita e mediocre vive seus dias, enfim enroscada ao doce sorriso das letras que antegozam em meus dedos minha rendição, minha submissão, de cabeça baixa, em transe e palavras em riste, corro riscos, teço rabiscos, arranho e ouço gritos de uma alma torta, a minha e suas poesias.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
dos ciclos...
debruça-se um maio
sob uma chuva pálida
obediente
paciente
gota à gota
lava e tinge folhas
o que foi verde
o amarelo tece
o que foi vida
esfarela-se
recolhem-se
mais cedo os pássaros
fecham-se
mais cedo os olhos
é o outono
bolinando maio
é o tempo
que o inverno, espera...
terça-feira, 20 de maio de 2014
insípida
desembaraço meus nós
estico, puxo, vomito erros
estendo o que deles sobra
em varais de arrependimentos
um nada sem gosto, sem graça
recolho, reduzo, amasso, engulo
eram dos erros
as flores, as cores, o tempero
sem nós
sem caos
sem rumo, sem sal
sigo, a esmo..
segunda-feira, 19 de maio de 2014
poesia...
eu tento ser prosa
degustar das letras
com garfo e faca
da faca, erro o lado
e minhas veias abro
sobre as palavras
nem com o garfo
tenho jeito, escapa-me
e do chão faz leito
restam-me as mãos,
não, não diria vazias
nelas, sangra, a poesia..
sexta-feira, 16 de maio de 2014
que vergonha...
entre
versos
frios
um fio
de palavras
sem química
costurava
a última
rima
constrangida
fugiu
a poesia
versos
frios
um fio
de palavras
sem química
costurava
a última
rima
constrangida
fugiu
a poesia
quinta-feira, 15 de maio de 2014
por que?
e quando vem a tosse
parece querer de mim
arrancar os pulmões
pergunto-me
por que não?
por que
não arrebentar
meus porões?
deixar sangrar
garganta e boca à fora
a carne que me devora
essa a asfixiar a alma
essa a castigar o relógio
por que
não vomitar a vida
que me apavora?
deixá-la escorrer
a mercê de veios famintos
nesse chão que me convida
tão fácil seria
trilhar esse caminho
por que não?
por que não?
parece querer de mim
arrancar os pulmões
pergunto-me
por que não?
por que
não arrebentar
meus porões?
deixar sangrar
garganta e boca à fora
a carne que me devora
essa a asfixiar a alma
essa a castigar o relógio
por que
não vomitar a vida
que me apavora?
deixá-la escorrer
a mercê de veios famintos
nesse chão que me convida
tão fácil seria
trilhar esse caminho
por que não?
por que não?
quarta-feira, 14 de maio de 2014
dos fiapos
refazer os nós
colar os cacos
quem sabe
juntar os ossos
de um jeito manco
escalar barrancos
encilhar um corpo
meio vivo, meio morto
feito boneca de trapos
talhada na arte em cortes,
e torta
tropegamente
ir em frente
sexta-feira, 9 de maio de 2014
da paz
queria
das histórias
ou dos contos
o ponto final
fosse de amor
ou de guerra
encontro ou
de espera
fosse de açúcar
ou de sal
de água ou
de terra
tanto faz
só no ponto final
há paz
a paz
das histórias
ou dos contos
o ponto final
fosse de amor
ou de guerra
encontro ou
de espera
fosse de açúcar
ou de sal
de água ou
de terra
tanto faz
só no ponto final
há paz
a paz
quinta-feira, 8 de maio de 2014
das almas
se pergunto aos deuses
de que barro, você e eu
fomos feitos
se pergunto aos deuses
em que gatos e letras tantas
moram nosso encanto
como de praxe
a resposta é o deboche
são apenas, "achos"
e não acho-me
é no limbo
onde vivo, onde piso
nosso encontro
o resto é febre
o resto é carne
o resto é tato
e ao alcance das mãos
não te acho
não importa
não há janelas
não há portas
acostumada a viver
nesse limbo que me consome
não tenho mais nome
"só" sou almma
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