terça-feira, 20 de outubro de 2020

semente

 enquanto movem-se as cortinas

num desejo de voar pelos ares

seguem meus olhos o mesmo desatino

querer dos varais que me prendem 

cortar as farpas e as amarras


num voo silente e solitário

alçar as nuvens, os pássaros

os poços, os abismos, os faróis

as sarjetas, as estrelas, o sopro

a lama e a palavra


arrancar do peito e do nada

a navalha que tece no vácuo 

os nomes dos bois, os nós das artérias

o esconderijo dos fetos

e fazer-se verbo....



sábado, 17 de outubro de 2020

limites

do outro lado dos dias

ficaram os êxtases, os suspiros, 

as rosas e as lágrimas


chorar não era de todo ruim

era como trair a assepsia  e a prosa

e render-me à dor e à cor da poesia


e seus sins...


desse lados dos dias

as palavras sem carne, insossas

riem anêmicas e com fome 


de mim...

terça-feira, 13 de outubro de 2020

rotina

 todos os dias

os matizes que me anelam os passos

lembram-me que preciso

de metamorfoses...


todos os dias 

ao arrancar os olhos

de minhas selfs, esqueço-me 

de minhas premissas


e sigo, arrastando de novo

e de novo minhas cinzas...


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

fugaz

 ah, essas vozes que pulam os muros,

mais do que sussurros e tão cheias de lonjuras

carregam em seus colos faces deixadas

em calendários tão idos...


chegam-me feito crianças 

querendo olhos de mãe

e chegam-me feito adultos

cheios de luxúria


e me desnudam...

sábado, 10 de outubro de 2020

ausência

eu devo pagar o preço
do ócio, do abandono, do desprezo

e mereço, o virar das costas
do presente, da paciência, dos desejos

e todas as pedras que sinto
ao me fingir de morta e me vem a esmo

sim, mereço
sim, pago o preço

e feneço

depois...
se tiver a verve ainda acesa

volto ao recomeço

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

56

 junto com as  aves

as cores, as marias, as regras

crepúsculo reza

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

55

o  sol inclemente
sem nuvens para descanso
brilha em sua vingança

e arreganha os dentes...