sábado, 22 de junho de 2013

inverno

escorre
líquido amniótico,
entre os ossos das árvores
sobre a lápide do outono
brota o inverno

e na posse 
de corpos e do tempo
leva o que foi ontem,
lava o que foi verde
esfria o que foi quente

em dedos muitos
traz o arrepio do abraço
arrepio que trinca os dentes
e sem pressa, sem vestes
planta na boca, o silêncio

e se nada além quisesse
mas quer... e quase mudo
rasga a pele do orvalho
numa gota ainda viva
derrama seu sêmen 

em gelo, geme...



domingo, 16 de junho de 2013

fuga...

a foice
a face
sulca

a faca
a fruta
suga

o fogo
a folha
sepulta

na fagulha
a fuga
surge...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

silêncio

há na palavra ainda feto
o embargo dos dentes, da lingua
da voz, do medo... ( da resposta )


quinta-feira, 6 de junho de 2013

devoção...

inocentes folhas
ao vento entregam suas vértebras
quebram-se, esfarelam-se

ainda assim,
a ele devotam suas almas
e em seu mãos, morrem...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poesia...

e se não for vadia, indecente
promíscua não há de ser poesia
as palavras que perfilam-se frias

a poesia?

há de escorrer quente pelos dedos
em folhas brutas, brancas ou sujas
inebriar josés, judas,  genis e marias

e em noites e em dias, gritar
a olho nu seu corpo ardente
por mãos sedentas de entrelinhas

insaciável prostituta
no exercício de sua essência
em leitos amigos e inimigos, deita-se

por gosto, com gosto
não esgota-se, não medra-se
adapta-se ao gênero, ao sexo

ah, poesia...

tão mãe, amante, filha
ainda que tenha dono
bebe de outros vinhos

bem-me-quer, mal-me quer
baila e fala, às vezes é retrato...
e... com almas,  acasala-se

chora, ri, amaldiçoa, dói
doa-se, abençoa... enfurece-se
ama, ama e ama...

sempre pura, poesia...

terça-feira, 4 de junho de 2013

covardia...

tenho trancado meus sonhos
em gavetas de erros, deles um medo
encarar de frente, meus segredos

em noites negras, ouço-os
intoxicados de nãos, vivos ainda
imploram um fim, um sim...

um sim de mim?
um sim quase fóssil?
um sim sem fim?

ignoro-os,
tão pouco, em cacos, tão pó
nada faço, nada posso, afasto-me

alcanço, logo ali,
os calcanhares do dia (que zombaria )
a susurrar-me baixinho, covardia...


domingo, 2 de junho de 2013

é...

é da dor o crepúsculo
o nó no peito, a cor escura
olhos que já não buscam

um nada  junto a outro nada
mãos dadas num fio que separa
e... na boca, palavras fantasmas

é da alma, o crepúsculo
é no espelho, a luz apagada
é da carne, a morte, anunciada

silenciosa morte
num átimo do que não houve
num quase ainda vivo, estica-se

é da faca o crepúsculo
sangria em tons púrpura
num tempo, que sempre, urge