quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

domingo, 11 de dezembro de 2016

estradas

um tanto peço
um pedaço das
tuas asas

um outro tanto
peço um voo nas tuas
palavras

e peco
por não ser minha
a tua morada

e peco
por não ser tua
a minha poesia...

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

impressões

e vem
o tempo
indolente
e de armas
nos dentes

e tudo que sinto
é essa preguiça
de mim, de você
do que fui e
não quero ser

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

tácito

o quê empurra
o passado ladeira
abaixo

são esses
sapatos ainda
não calçados

são esses
silêncios nos olhos
tatuados

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

asas

e num repente
o sol estica-se

a boca
vem ao dente

os pássaros
ganham palavras

e tudo
tudo passa

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

ninho

devagar
os olhos fecham-se

o estômago
pesa

cansada de viver
do lado de fora

a palavra
encolhe-se...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

parêntesis

fico esperando
que algo aconteça

que meus olhos
adormeçam

e minhas mãos
floresçam

ilusão...

tudo é pêndulo
um vai e vem

pratos, prantos, apêndices
partos, palavras, reticências

aparências....

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

névoas

horário de verão
e tantos sóis atrasaram-se
o de ontem, o de hoje
o de amanhã

só essas cortinas
nunca faltam, nunca calam-se
nuas, esguias, de pernas,
de mãos, de línguas

exibem-se...
crescem
proliferam-se
ferem

de fera, de fé
de faca, de faces
de falácias
engolem meus olhos
minhas janelas...



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

dolo

por um momento
foi corpo, alma
e gozo

depois...
desejou
outro poema

juntou as tralhas
a saliva , as palavras
levantou voo

fez-se
aborto

sábado, 10 de setembro de 2016

entre tantos...

tenho
em mim
tantos cansaços...

eu tento
juro que tento
afugentá-los

mas, uns encontram-me
e em outros eu mesma
encaixo-me

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

será?

a lastro
a rastro
no lustre
no lume
na lua

pensamentos
imagens, estilhaços
feito linha, botão
tecidos, rendas
e agulhas

alinhavo
rasgo, corto
costuro,
escavo
abotoo

há quem diga
que são entrelinhas
metáforas, palavras
com ou sem rimas
poemas, poesias...

sábado, 3 de setembro de 2016

costume

quando
despertenço-me
de longe vejo
meus óculos
meu ópio...

sei
onde
erro o berro
e dos tropeços
em sarjetas

mas
de lá eu volto
à cata dos mesmos
vícios e olhos
e perco-me...

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

reflexo

tantos espelhos
e nenhum deles
me condiz

procuro e procuro
não encontro neles
minhas pústulas

nem nas rusgas
nem nas rugas
nem nas fugas

e elas existem
ainda que nos fósseis
de minhas cicatrizes

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

desgosto

agosto
despede-se
sem voos

marcado
feito gado
no pasto

com
cheiro e gosto
de podre

mas há
sempre há
quem goste

e goze...

tara

a palavra
que a boca
cala

é faca
que a carne
talha...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

era

gosto de fragmentos
esses pinçados na saliva
do tempo

cacos, pedaços
de vidas inteiras
em ilhas alheias

e, se,
não me faço concreta
à colheita desses farelos

contento-me
a viver de letra em letra
de verso em verso

um barco à deriva
longe, bem longe do cais
das esperas...

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

labirinto

quem sou
quem tu és

ao sabor do tempo
perdidos em templos

palavras e grafias
máscaras e metáforas

fôssemos flores
fôssemos facas

nosso encontro
é e seria, ainda,

na poesia...

terça-feira, 2 de agosto de 2016

aspirações

há tempos
não me faltavam
os pulmões

estranha sensação
fumaça sem ser vista
nublando peito e coração

pulsam-me as têmporas
reclamando a falta de
oxigênio

ah, como a carne
é fraca, tênue e
ingênua....

qualquer lapso
qualquer caco
( na garganta ou fora )

e lá estaremos nós
essencialmente pó
derramados ao chão...

domingo, 31 de julho de 2016

costumes

depois
de decepados

voltam o versos,
boquiabertos

mancos, famélicos
sedentos

mas,
ainda os mesmos

na pele, a palavra,
nas entranhas, o sangue

quinta-feira, 28 de julho de 2016

aos céus


fosse manhã
fosse tarde

era um tudo
a transpirar navalhas

aquele desejo
de abrir a carne

e alçar voo
em busca de asas...

quinta-feira, 21 de julho de 2016

espasmos

entre tantos analgésicos
ri a dor de cabeça erguida
faz pouco e como faz
de minhas velhas feridas

e esse purgar de ais
não ultrapassa os sinais
ovelha obediente, cabisbaixa,
segue sangrando em silêncio

quem dera um pontapé
na boca aberta desses anzóis
que insiste em abrir da carne
antigas e estimadas cicatrizes...

de resto é aquele cansaço
esperar no amanhã, a paz
quando a dor enjoada da caça
deite e adormeça ao meu lado....

sexta-feira, 15 de julho de 2016

domingo, 10 de julho de 2016

desperta

todas as manhãs
ao abrir os olhos

arrebento o útero
dos meus sonhos

e em vigília
aborto-me...

terça-feira, 5 de julho de 2016

das preces...

suspensos, os ais,
aguardam dos olhos
um sinal de paz

qualquer lágrima
que destranque da alma
as asas das cicatrizes

crucificada, a palavra,
espera na carne do dia
salmouras ou entrelinhas...

qualquer pacto
que desfigure da face
a não dita poesia

sábado, 2 de julho de 2016

escombros



esse
não gostar

esse
não querer

entre alinhavos e blues
por mim sacramentados

debocham
e traem-me nas palavras

quando a poesia
escavo...

quinta-feira, 30 de junho de 2016

quarta-feira, 22 de junho de 2016

espectros


hoje não há
hoje não foi
hoje não flor

só mais um dia
para rodapés, sarjetas
credos e dejetos

e que dobrem os joelhos
os abençoados que ainda
os tiverem em carne viva

e que ergam os olhos
àqueles que ainda tem asas
do lado de fora das amarras...

terça-feira, 21 de junho de 2016

fuga

há tempos
venho me transformando
no que fui...

sem saber
onde estou e
quem sou

fluo...

terça-feira, 7 de junho de 2016

caos


de que me valem
feridas que de bocas
abertas gritam
se nelas não tenho
abrigo

e de frio morrem
minhas cicatrizes

de que me vale
um cálice de
palavras frias
se dele,
sangue e alma
foram proscritos

e de sede morre
minha poesia...

quinta-feira, 2 de junho de 2016

carma

pensava que tudo sabia
fazia voltas e mais voltas
ao redor do próprio
umbigo

de olhos que não
conheciam dos céus
a beleza do escuro vinil
só estrelas febris, servis

pobre coitado...
soldado de lutas rasas
marchava e marchava
fugindo do nada

nem a si mesmo
encontrava...

terça-feira, 31 de maio de 2016

presente...

e esses
silêncios
tatuados
no tempo

plantam
no vazio
das horas
ausências

e não dizem
o que querem
e o que sentem,
mentem...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

ora...

quem dera
parasse
o tempo
como
param
os relógios

e acertar
os ponteiros
fosse apenas
um questão
de pilhas ou
de corda...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

benesses...


tenho
em mim
tantas marias

dia a dia
rezo por
suas crias

e peço
às suas aves
poesia...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

desperdícios...


preciso de foco
para apagar as luzes
desses meus fossos

não há sentido
na letra que mira
olhos que mirram

se é para ser morte
que seja lúdica e
limpa

e  traga-me
no frio da lápide
um fiapo de vida...

terça-feira, 26 de abril de 2016

desditas...

hoje deixei
que me cutucassem
as feridas

e lá
por debaixo
das cascas

em meio
aos analgésicos
e a poesia

estavam
teus olhos
ainda...

sexta-feira, 22 de abril de 2016

dantes

sem pilares
no presente
minha alma
à deriva anda

é um vai e não volta
em poesias inconscientes
em verbos pretéritos
em palavras ausentes

vago e vago
entre andaimes de versos
e em um nada tão longe
mostra-me o vácuo...

se tudo é espectro
ao toque da saudade
por que não perdem-se
tantas e tantas imagens?

quinta-feira, 14 de abril de 2016

meadas

sem paciência
para cabelos
e espelhos

quero mais
a ausência
do medo...

dane-se o reflexo
dane-se a autodefesa

não nutro piedade
com olhos que buscam
corpos inteiros...

há tempos
sou de mim
um meio...

terça-feira, 12 de abril de 2016

silêncios...

são tantos olhares
no caminho das
palavras

um que tanto
me diz sobre
almas e carne

outro que insiste
na dicotomia entre
prosa e poesia

e um que crava
na pétala em branco
o fio da espera

e cala-me...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

sina...

meu deus
como é triste
a palavra
que não
foi dita...

aquela
por debaixo
da língua
ou atrás
das cortinas

tudo
o que queria
era uma vitrine
exibir alma e ossos
e dizer:
eu  existo...

quarta-feira, 23 de março de 2016

ciente...

já não era
sem tempo
chegou tarde
mas mostrou
as veias e
a que veio

nem óculos
nem meios termos
sem telhados de vidro
sem rímel, batom
ou palavras
ao dente

o bom
e velho silêncio
só ele (e eu)
no meio da sala
sem medo
das esperas e
dos espelhos...

terça-feira, 22 de março de 2016

cardápio...

e, se...
me permitirem
prefiro assim
um gole de poesia
para amaciar
a tenra carne
do dia à dia...

quinta-feira, 10 de março de 2016

descaminhos...


carrego para a viagem
um bocado de poesias
mártires, prostitutas
santas, psicopatas

e no retrovisor
de minhas entrelinhas
vejo delas, os gritos
gozos, sangue e lascas

quando bate o cansaço
apeio minhas palavras
estico dos olhos, os ossos
à beira das metáforas...

nesses silêncios
nesses abrigos,
de minhas crias
faço-me filha...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

simples...

tantos hifens
tantos ínterins

entre meu ir
e teu vir

fico assim
com preguiça

de você
e de mim...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

insano



além do que é corpo
eis que não é morto
esse desejo louco de provar
o que não é pouco...

fosse acariciar
nas pontas dos pés
um lençol de folhas secas
que invernam inteiras

fosse beijar
num vai e vem de ruas
a boca aberta e oferecida
nas sarjetas das luas

muito além da carne
eis o que é gozo
tantos anjos sem asas
a versejar o que é voo...

domingo, 17 de janeiro de 2016

imagens...


ah,
e se a poesia
me reflete, dela
eu sou reflexo.

um jogo
no escuro, de tato,
cheiro, pedras, fel,
açúcar e pele.

um caso
de amor e ódio
entre minhas folhas
não tão brancas
e meus poros...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

enchentes

tenho urgências
que não me cabem

essas que gotejam
em palavras

feito água
de torneiras espanadas

inundando  todos
os cômodos da casa...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

senhas


fico aqui
protelando
teus blues

esses
que atiçam-me
contra o muro

e lembro-me
nem os nossos
signos combinam

escondida
entre  janelas
vermelhas

pergunto-me
até quando te negarei
minhas letras...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

e...

se
meu colo
quiseres

penses
que nele carrego
outros quereres

são olhos,
mãos, corpos
de poucos dizeres...

domingo, 3 de janeiro de 2016

da alma


às vezes
sou apenas
dor

em outras
sou apenas
carne

e há dias
em que sou  noites
sem manhãs e tardes

e vago...