quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Quem sabe no Natal...




Esperava pelo pai todos os dias. Por mais que insistisse a mãe, não arredava pé do mesmo ritual. O vestidinho já desbotado, as sandálias apertadas. Fosse frio, buscava um casaquinho, fosse calor, prendia os cabelos. Vaidosa, olhava-se no espelho antes de ir para o portão. Roubava o batom da mãe, o perfume e estava pronta. Quatro anos de vida e tão longas e pesadas histórias.
- Amanhã ele virá, mamãe, falei para professora que não irei na aula pois vou passear com papai.
Os olhos claros foram se tornando turvos, caídos. Irritadiça ficava atenta ao toque do celular da mãe.
Semanas, meses e nada. A presença tão desejada, castigava-a com a ausência.

- Seu pai ligou, pena que você estava na escola... Não quero que fique triste, ele não poderá vir, tem de trabalhar por muito e muito tempo.
Mentira. A situação estava insustentável.
Fitou a mãe como se soubesse que nem isso ele fizera, não ligara, não se comunicara, não se mostrara interessado nela.
- Acho que ele virá no Natal...
Abraçada à mãe, os olhinhos cheios de lágrimas tentavam encontrar um porto seguro, um tempo seguro onde os homens não esquecem-se das pequenas almas que os esperam.

Não voltou mais ao portão. Quem sabe no Natal...

2 comentários: