sábado, 21 de abril de 2012

Do Fim...





- Achei que fosse diferente...
Murmurou ela olhando para as mãos vazias, vazias e desprezadas.
- Achou errado. Segui meu caminho.
Tão tácita foi a resposta que sentiu-se constrangida. Tão longe do homem doce que aprendera a amar, tão diferente da imagem por ela construída.
Suspirou tentando ganhar tempo. Sabia que fora esse o combinado, mas no fundo acreditava em vínculos além do tempo, além do espaço.
- Mas...
- Não tem mas, acabou. Minto... Não acabou, nunca existiu.

Eco, oco, ele destilando aquele ar de superioridade, ela no vacuo.
As lágrimas impediram de ler o resto.
Fechou as janelas para o passado,  deletou o coração com a borracha da decepção.
Quando voltou a  percebê-lo, havia um instinto de destruição entre seus dedos, sorriu perigosamente...
- Ok, aqui estão suas letras, seu conto.
Disse enquanto acendia uma chama em seus olhos. 
O medo passou pelo semblante covarde daquele que um dia lhe jurava amor e fidelidade. Amor? Nem três meses e já dizia amar outra. Três meses era seu prazo de validade, três meses afastados, três meses sem que rabiscasse sobre aquelas folhas, três meses esperando por aquele momento. E nada, era do nada o presente das palavras.
Rasgou uma a uma as páginas daquela historia e ateou fogo aos pedacinhos amputados sem dó ou piedade. O rosto de anjo como Dorian Gray foi transformarndo-se em algo horrendo, covarde, vil em meio às letras borradas pelo negro que nasce do fogo... Desmanchando-se em cinzas envenenou o ar com o cheiro de sua alma incinerada.
Fim.
Só mais um conto mal escrito, mal resolvido em meio ao lixo literario que se habituara a produzir.

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