segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Lápide


Há essa lápide feita e esculpida e lanhada à lápis. Lápis ferino, mais fundo olho, mais fundo vejo do lápis o escârneo. Como se tivesse vida, lápis. Não havia de ser outro instrumento a cavalgar esse meu coração vazio.  Estranho cinza que me cega, que me carrega, agora. Ontem não. Ontem havia rabiscos. Bobagens escritas, bobagens de tamanhas mentiras.

Mas hoje há essa lápide, onde corro os dedos e esfrego a pele em busca de alguns riscos, de alguns risos. Bobagem, tudo que li e pensei ouvir foi feito à lápis. Não menos não mais, só promessas, alvas nuvens, vácuo.

Dia à dia, escrever e apagar, escrever e perecer. Quanto mais procuro o rosa dos lábios, mais encontro os farelos do lápis. Não, minto. Encontro vácuo e precipício cavucados com o lascivo lápis que só fez e fez desenhar miragens. Riso, riso meu. Debocho eu, sim, debocho eu de minha insensata meninez fora de hora.

E era aquele caminho parecendo cartilha, parecendo ladainha entre meus olhos e tuas imagens Fez que fez e conseguiu em minha tez, agora sim, tuas malditas grafias delinear linhas. Fizeram a tarefa de casa, mãos, dedos e lápis. Não sei se meus ou  teus, se só teus, se só meus, foram tantos delirios. Não o culpo, mas te refugo. Mal, mal, folhas e folhas sem cor, vazias, somente marcas e farpas. Nada ficou dos sonhos, nada restou, apenas fissuras secas e sem vidas, fissuras.
Lápide de uma escrita à lápis.

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