sábado, 3 de maio de 2014

noites brancas...


leite fresco nas pestanas da noite
paredes esbranquiçadas em afrescos
a majestade sonâmbula não adormece
arfa  e arde no colo das estrelas

fantasmas cuspidos no talhe da pedra
flutuam em potes habitados pela névoa
o rio turvo na órbita das trevas
borda com o poeta o bocejo da atmosfera

noites brancas infestam os rugidos dos anjos
arranham a abóbada, esporam seus flancos,
pálida... arabesco na tela da pele
nasce Vênus... sopro em madrepérola

fisgado o poeta na lactose da espera
alfineta um sol maior nas asas da musa
júbilo de brilho, escorre alma adentro
ópera em janelas abertas

no parapeito em um quarto da lua
perplexos arroubos cortejam adagas
embriaguez de mãos em gelo quente
despertam a luminosidade dos pântanos

relâmpagos afugentam a via-láctea...
vidraças limpas nascem com a alvorada,
as noites brancas sem o reboco das sombras
envelhecem com a ponte nos olhos do poeta

inóspitas rugas apavoram os templos,
no sorriso em um gancho no palácio do tempo
o espectro da poesia sorve o leite derramado
dos seios nebulosos de Vênus...

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