sexta-feira, 29 de junho de 2012
Cárcere
num cárcere de letras
sonha a carne minha
tocar no fio do espelho
o doce gume da poesia
do etéreo, desejo sins,
já não importam-me os pés
nessa fuga de minha terra
corto caules, corto elos
ilusão dos ombros meus
carregar entre as sombras
o sopro daquele poema
ainda feto, ainda infecto
ao fogo de tantas lágrimas,
insisto, nada existe, nada resiste
farta a palavra entre os dentes
num grito mudo, cala-se, espera
só mais um passo
só mais um corte
enfim deixar o cárcere
matar da poesia, a carne....
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Cismo...
cismo
ainda
com as cinzas
um ir
e vir
gritam..
cismo
ainda
com as rosas
um ir
e vir
brotam
cismo
ainda
com o desdém
um ir
e vir
além...
cismo
ainda
com as rezas
um ir
e vir
esperam ...
Entrelinhas...
ronrona entre as paredes
estranha inquietação, nua,
palavras mudas de mim escoam
sem respostas, sem eco, ocas...
das bobagens minhas
não escritas, tantas poesias a ti
minha alma entoa, geme... suspira
bo ba gens, não ditas, malditas
eu sei, não sabe você
dos nossos laços, nossa morada,
nos versos meus, tristes bastardos,
não ouve você, o meu chamado...
se te acolho, te abraço
é nesse espaço onde não te acho
não há aqui o medo do deboche
esse que imagino em teus olhos
nas letras que lanço num céu de acaso
sonham meus dedos tocar tua face,
as dores do teu cansaço... essas
em minhas entrelinhas, afago...
segunda-feira, 25 de junho de 2012
É inverno...
é inverno, minhas células nuas
escamas, derramam em favos
um frio nas mãos, nos cabelos
e essa água entre os olhos
nenhum pedaço de pano
nenhuma ranhura no gelo
é inverno, mantas de orvalho
ruas, faces, luas, inundam
ao invés de flores, lenços
nos bolsos, o inverno dos dedos
encolhidos, retraídos, escondidos
do toque, só o desejo em casca
é inverno, um leito de desdém
estendido, branco, limpo e agudo,
cabisbaixa à espera de um abrigo
minha poesia, em pétalas, mingua...
domingo, 24 de junho de 2012
É dia...
é dia de recolher palavras-
expostas... sem saliva secaram
sem olhos, sem respostas
é dia de mascarar feridas
se em sangue vivem, delas bebo
numa taça de vinho, já morta
é dia de esconder a face
um basta ao escârneo do retrato
aquele, onde escondo minha imagem
é dia, escuro, um sol cinza
no amarelo dos dedos, um riso finge
malvado, faz das réstias, suas facas...
é dia, é dia, é dia, ainda
que todas as minhas células
gritem que não, é dia ...
sexta-feira, 22 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Feto
doem-me a cabeça
a garganta, músculos
e visceras
no utero do dia
ainda mal formado
rebela-se o feto
indigestas palavras
servidas à mesa
envenenam meus versos
tão pouco peço
uma pedaço de folha
um lápis, uma janela
menos ainda me cedem
sequer um metro quadrado
de sonhos e sossego...
dói-me a carne
dói-me a verve
aborto meu feto...
terça-feira, 19 de junho de 2012
12
1.
num quase inverno
um fechar portas e janelas
engana a pele
2.
olhos alongados
pelos buracos da noite
fogem os gatos
3.
silenciam-se os pés
só o burburinho das mãos
toca o coração
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Auto Flagelo
dó, dói,
duas, tres doses
metáforas, blues, arte
vinagre
coisas, foices
lama e gume
lingua, salitre
descarte
espinho, ninho
catre da carne
palavra, tão tarde
esvai-se...
ah, como debocho
desses meus pés que me faltam
das pobres mãos que espasmam
esculpindo minha lápide
tudo é flagelo
do toque ao beijo
fla- ge - lo e devaneios
pedras que ardem
mareja a pele
meu asco, amarro,
pupilas de aço
navalham-me...
sábado, 16 de junho de 2012
Disfarce...
recebo em branco
palavras dúbias, dúvidas
mão dupla, tortura
maçãs agridoces
em pratos de amargura
ansiando minhas unhas
e desses lamentos em carne viva
tão fundo desejam, imploram
de meus dedos, o abismo...
descasco, encaro meus frutos
ouço deles, ais, tantos gritos
a escorrerem de mim, líquidos...
música, música e música
caminhos, encruzilhada, navalhas
insistem, dúvidas, dúvidas...
ainda em pedaços, aos nacos
palavras, difarces, quases
escondem de mim, suas faces...
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Presa...
cansam-me as horas
num verso que já morto
vive em minhas costas
tivesse minha alma, asas
sob o negro gume da palavra
libertariam-m a carne
ao contrario do que pensam
asas, sugam, consomem
ossos, pó, verbos
é o preço, é o peso
sem asas, sem trocas
presa... letras, aborto
terça-feira, 5 de junho de 2012
E...
há brechas no medo
lascas entre parênteses
saliva, suor, apelo...
um cio descalço
silêncio e segredo
caminhando no peito
liquida...
ventre do desejo
fome, vinho, palavras
seda em degredo
um tudo ao meio-
nos lábios das letras
riachos, despejo...
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