Sangra...
Na pele da palavra, a verve...
domingo, 15 de janeiro de 2023
fantasmas
domingo, 14 de fevereiro de 2021
das estradas
te vejo passar por mim
em cada "não" por mim tocado
te vejo longe de mim
em cada "sim" enterrado
tinha de ser assim, eu sei
ser maria, ser ave, ser vazia
uma reza sem crença, sem asas
na carne, enclausurada...
mas, às vezes, me pergunto:
você sabe?
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
das estações
incomodam-me os cabelos
fio a fio a puxarem-me os freios,
o outono, lembra-me e lambe-me
sem pudores, sem pedir passagem
sem verões e sem receio
há cinzas entre a primavera de ontem
e o inverno que ainda por inteiro, não veio,
e se o amanhã já se diz tarde
invento uma fuga, uma dúvida
e do hoje escondo o espelho
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
verbo
necessito da tua página em branco
feito água e terra nas mãos de deus
a te fazer barro e te fazer palavra
feito consoante e vogal a espera
de um sopro meu
e se te necessito e te nego
desconjuro, blasfemo e peco
só para que meus joelhos se quebrem
por um caco, por um pedaço
que sejam teus...
terça-feira, 20 de outubro de 2020
semente
enquanto movem-se as cortinas
num desejo de voar pelos ares
seguem meus olhos o mesmo desatino
querer dos varais que me prendem
cortar as farpas e as amarras
num voo silente e solitário
alçar as nuvens, os pássaros
os poços, os abismos, os faróis
as sarjetas, as estrelas, o sopro
a lama e a palavra
arrancar do peito e do nada
a navalha que tece no vácuo
os nomes dos bois, os nós das artérias
o esconderijo dos fetos
e fazer-se verbo....
sábado, 17 de outubro de 2020
limites
do outro lado dos dias
ficaram os êxtases, os suspiros,
as rosas e as lágrimas
chorar não era de todo ruim
era como trair a assepsia e a prosa
e render-me à dor e à cor da poesia
e seus sins...
desse lados dos dias
as palavras sem carne, insossas
riem anêmicas e com fome
de mim...
terça-feira, 13 de outubro de 2020
rotina
todos os dias
os matizes que me anelam os passos
lembram-me que preciso
de metamorfoses...
todos os dias
ao arrancar os olhos
de minhas selfs, esqueço-me
de minhas premissas
e sigo, arrastando de novo
e de novo minhas cinzas...
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
fugaz
ah, essas vozes que pulam os muros,
mais do que sussurros e tão cheias de lonjuras
carregam em seus colos faces deixadas
em calendários tão idos...
chegam-me feito crianças
querendo olhos de mãe
e chegam-me feito adultos
cheios de luxúria
e me desnudam...
sábado, 10 de outubro de 2020
ausência
do ócio, do abandono, do desprezo
e mereço, o virar das costas
do presente, da paciência, dos desejos
ao me fingir de morta e me vem a esmo
sim, mereço
sim, pago o preço
depois...
se tiver a verve ainda acesa
volto ao recomeço